quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

PELA MEMÓRIA DE UM POVO E POR JUSTIÇA AO NOSSO MAIOR POETA


Todo patrimônio cultural, seja ele tangível ou intangível, precisa ser preservado, fomentado e fortalecido. Esse é um compromisso que todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal) deveriam priorizar. E todos os governos sabem que devem isso aos grupos organizados, aos artistas e, principalmente, a sociedade. No entanto, a cultura sempre esteve à margem das prioridades e, junto com ela, uma enorme parcela da sociedade que carece de bens culturais; um grande contingente de pessoas que tem fome de leitura, cinema, teatro, memória, etc. Pessoas que vivem no mais pacato e insensato estado de miséria cultural, sem perspectivas, tendo corroídas suas possibilidades de acesso aos bens culturais e à informação com conteúdo de qualidade pelo descaso cultural histórico e proposital dos governos e da elite que os sustenta. Isso lembra o pensador alemão, Karl Marx, quando dizia que o movimento da História-Cultura se realiza por meio das lutas de classes sociais para vencer formas de exploração econômica, opressão social e dominação política. O fato é que, mesmo com muita luta, historicamente, os movimentos sociais, assim como os poetas, artistas e grupos culturais sempre foram marginalizados, desrespeitados pela classe dominante de mercenários e burocratas.
Exemplo desse desrespeito com toda a sociedade paraense é o estado atual que se encontra a antiga Casa do Poeta, na rua Siqueira Mendes, em Icoaraci. A casa que deveria ser, pela sua forte simbologia, um espaço dinâmico da linguagem literária ou de realização de atividades artístico-culturais permanentes, não passa de ruínas invadidas pelo matagal da área que cresce a cada dia, destruindo os restos mortais do prédio, dando, ao mesmo tempo, lugar a uma paisagem urbana desastrosa, fedida e aterradora.
Esse descalabro do patrimônio histórico teve seu processo desencadeado ainda na gestão dos governos Almir/Jatene, quando o prédio era administrado pelo Conselho Interativo de Segurança e Justiça – CISJU. Nos anos de 2003 e 2004,o prédio, algumas vezes, chegou a ser utilizado como espaço para a realização de oficinas de arte-educação em parceria com a, hoje, quase extinta Fundação Cultural do Município de Belém – FUMBEL. Mas já se encontrava em perfeito estado de abandono. A partir daí, ninguém sabe, ninguém viu. O descaso continua e até agora não se tem nenhum parecer do atual Governo do Estado que, não muito diferente do governo passado, é ótimo de retórica e péssimo de ações.
A verdade é que a Casa do Poeta se transformou num verdadeiro antro receptador das pútridas mazelas sociais. Virou a casa da “Mãe Joana”, ou pior, a casa dos indigentes emporcalhados, dos puxadores de fumo, da prostituição improvisada, da violência sexual, etc. Ou em outros termos, a casa do poeta se transformou na CASA DO ESTUPRO! Não só do estupro literalmente carnal, mas do estupro da dignidade e da memória histórica de um povo que, nesse caso, se alicerça no patrimônio histórico (a casa) e num outro tipo de patrimônio cultural (a poesia, a música, a dramaturgia) produzido por um dos maiores expoentes da cultura e da literatura desse Estado: o poeta Antônio Tavernard.
Desse modo, a reforma da casa do poeta seria a resposta mais sensata do Governo do Estado à sociedade paraense. Além disso, se faz urgente e necessário que os governos deixem de lado a retórica estrategicamente calculada e a burocracia, principalmente quando tratarem de assuntos relacionados à cultura, pois todos os artistas e produtores culturais sabem que desculpas esfarrapadas e exacerbo de burocracia não combinam com cultura.

Portanto, agora que o estado do Pará é “Terra de Direitos”, a população que tem e os que terão conhecimento da real situação da casa do poeta, com certeza querem que o “governo popular” tome as devidas providências não só pelos seus caprichos políticos, mas pela cultura, pelo direito da sociedade, pela memória de um povo e por justiça ao nosso maior poeta.

Evanildo Mercês

Ator, contador de histórias,

Estudante de Administração da UNAMA e de Filosofia da UFPA.

www.evantropofagicovisceral.blogspot.com

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