terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

JORNALISTAS


Nada do que é humano me é estranho. Se a memória, embotada pelos anos de fechamento e madrugadas não me prega alguma peça, esta frase de Karl Marx espelha bem o não-estranhamento meu diante de algumas atitudes humanas.
Não é bem o caso, mas cabe nos finalmente a que se propõe esta crônica. Soube pelos jornais que o curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Pará é o terceiro mais procurado pelos jovens que vão fazer vestibular. Outra notícia dá conta, também, que é considerado pelo Ministério da Educação um dos piores do país. Nenhuma das duas notícias me surpreende, confesso, mais tais constatações acabam por me conduzir a algumas reflexões sobre o tema.
Primeiro, fico pensando se este jovem, esta jovem que sonha com faculdade de jornalismo, conseqüentemente com o exercício da profissão, sabe que (segundo especialistas divulgaram recentemente) esta função que pretende exercer é uma das bem menos remuneradas, principalmente para os que nela se iniciam, e ainda que (novamente lembro: são os entendidos em economia e emprego que dizem tais coisas) esta é uma profissão sem nenhum futuro. Também reflito: será que “esses moços / pobres moços “ sabem que terão uma vida atrelada ao veículo no qual trabalharem, como horários inexatos, poucas perspectivas de ascensão e pouquíssimo tempo de diversão ?
Mais: quando exultarem com o primeiro “furo” conseguido, receberão, à guisa de estímulo, apenas um resmungo do chefe de reportagem e do diretor de redação, e uma nova pauta para cobrir um chá beneficente de senhoras amigas do proprietário do veículo de comunicação ou mesmo um encontro de idosos magistrados que discutem o sexo dos anjos?
Se a esta altura, lendo estas linhas e traduzindo delas um tom sombrio da futura profissão, o aspirante a jornalista estremeceu diante das nada agradáveis possibilidades que se descortinam para ele, até mesmo bizarras, aconselha-se: é melhor desistir, seguir outra profissão, ser ascensorista, bancário, farmacêutico, zelador, guardador de automóveis, enfim, qualquer outra atividade. Menos jornalismo, claro.
Outra coisa: se o mocinho ou mocinha pensam em sair da faculdade e ir logo pilotar um telejornal – como muitos sonham e somente uns poucos conseguem – leiam este depoimento de Chico Pinheiro, da Rede Globo, que só após 20 anos na profissão ousou ir para a frente das câmeras: “...a primeira coisa é descobrir que essa profissão é paixão. Sem paixão não se faz nada na vida. Não se pode ser jornalista como se fosse um burocrata, que trabalha de tanto a tanto, um cara comum que no fim do expediente tira a roupa de jornalista. Não é assim. O jornalista é jornalista na hora em que acorda, em que deita e às vezes ainda sonha com a notícia.” (entrevista publicada na revista Jornal dos Jornais, outubro de 2000).
Paixão... fico pensando que é esta a pedra-mestra desta profissão, é ela que nos faz mover mundos, vibrar com um “furo”, lastimar um erro, praguejar contra a má sorte, xingar até mesmo o Papa. É esta paixão louca que nos faz, a nós jornalistas, odiar algozes, ditadores seja à esquerda ou à direita, burguesões, ladrões do erário público, e sempre querer ficar do lado dos menos favorecidos, com a pífia esperança de que ainda podemos mudar o mundo.
Na verdade, penso eu, nós, jornalistas, somos aprendizes da esperança. É a ela que nos agarramos como um náufrago à tábua de salvação.

* O autor é escritor (15 livros publicados), jornalista e radialista, além de professor do ensino superior.

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